Tragédia de Brumadinho

Vale cadastra famílias para fazer o repasse de R$ 100 mil

Mineradora responsável pela barragem que se rompeu em Brumadinho (MG) pagará o valor a quem perdeu ou ainda não encontrou parentes

Divulgação -

Por Nielmar de Oliveira e Paula Laboissière

A mineradora Vale inicia nesta sexta-feira (31) o cadastro de pessoas que têm parentes mortos ou desaparecidos após o rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG). A empresa informou que pagará às famílias R$ 100 mil por pessoa desaparecida ou morta. O atendimento será feito em dois postos, das 14h às 18h, nesta quinta-feira, e das 8h às 18h nos demais dias, prioritariamente na Estação do Conhecimento e também no Centro Comunitário do Feijão.

De acordo com o porta-voz do Comitê de Respostas Rápidas da mineradora no município, Sérgio Leite, estão aptos a receber o repasse famílias de funcionários da Vale, contratados e terceirizados, e membros da comunidade, falecidos ou desaparecidos, conforme lista oficial validada pela Defesa Civil de Minas Gerais e divulgada no site da empresa na última segunda-feira.

A companhia esclareceu ainda que apenas um representante poderá se registrar para receber o valor. Serão priorizados inicialmente os responsáveis legais por filhos menores de idade, seguidos de cônjuges ou companheiros em regime de união estável, descendentes e, por último, ascendentes.

"Procuramos organizar de forma bastante criteriosa para garantir o funcionamento adequado. A gente sabe das dificuldades do momento", disse. "É uma doação voluntária da Vale, independentemente de qualquer outra providência ou reposição", completou.

A mineradora ressaltou que, no momento do registro, será necessário apresentar a documentação comprobatória de vínculo familiar e dados pessoais originais e atualizados (nome completo, RG, CPF, data de nascimento, endereço completo, e-mail, telefone e dados bancários).

"A partir desses postos organizados, critérios seguidos, contas bancárias estabelecidas, em até três dias, esse dinheiro estará na conta", destacou o porta-voz da empresa.

Segundo ele, três canais telefônicos podem ser utilizados para tirar dúvidas quanto ao processo de registro: 0800 031 0831 (Alô Brumadinho), 0800 285 7000 (Alô Ferrovias) e 0800 821 5000 (Ouvidoria da Vale).

Mais de 300 homens trabalham em Brumadinho
Mais de 300 homens trabalhavam na quinta-feira (30), no sexto dia de buscas em Brumadinho, onde uma barragem da mineradora Vale se rompeu. De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, 220 deles integram a força do estado, enquanto 80 foram deslocados de outros estados, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo. Há ainda 136 militares israelenses auxiliando no local.

Parentes vivem angústia na busca por desaparecidos
Dezenas de familiares se aglomeram todos os dias em busca de informações. A cena se repete desde a última sexta-feira, quando a Barragem 1 de rejeitos da mineradora Vale se rompeu e deixou um rastro de lama e mais de 270 desaparecidos em Brumadinho. Na porta de um dos centros de atendimento montados no município, dois irmãos buscavam, com fotos nas mãos, qualquer notícia da irmã Gislene, de 53 anos. Edir Lazaro do Amaral é comerciante e conta que ela estava dentro do refeitório da empresa Vale na hora do rompimento da barragem. "Ela passou mensagens às 12h21min para algumas amigas. (Poucos minutos depois), uma vizinha viu a notícia e me avisou lá no restaurante. Até pediu para não avisar a minha mãe. Aí entrei em desespero", relembra. Gislene é uma das 276 pessoas consideradas desaparecidas até o momento. Ela trabalhava há 17 anos na Vale e, segundo o irmão, comemorava a compra de um carro novo e ainda cuidava da mãe idosa.

Identificação
O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais atualizou em 57 o número de vítimas do rompimento da barragem identificadas pelo Instituto Médico Legal (IML). O último balanço da corporação apontou 99 mortos e 259 desaparecidos, além de 391 pessoas localizadas.

Defesa Civil divulga plano para casos de risco em outras barragem
A Defesa Civil de Minas Gerais divulgou um "plano de contingência" no caso de riscos relacionados às barragens da região de Brumadinho que não se romperam. Mas, segundo o porta-voz da corporação, tenente-coronel Flávio Godinho, tal medida é preventiva, uma vez que nenhuma outra está com risco de rompimento. Segundo o representante do órgão, as demais barragens estão no nível de segurança 1. O risco aumenta quando a classificação passa para níveis superiores, como 2 ou 3.

Presidente de fórum fala em crime ambiental
O presidente do Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas, Marcus Vinícius Polignano, disse, na quinta-feira, que o rompimento da barragem não deve ser classificado como tragédia, mas como um dos maiores crimes ambientais já registrados no estado. "Queremos dizer aqui da responsabilidade de todos: empresa, estado, poder político. Depois de três anos (desde o rompimento de outra barragem, em Mariana), estamos aqui falando o mesmo do mesmo, ouvindo declarações quase que as mesmas, para dizer de uma situação em que estamos enterrando rios e pessoas. Isso é inadmissível, que continuemos a fazer esse tipo de política pública."

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